domingo, 13 de setembro de 2009

O que me faz brasileiro?

Quando eu era criança eu costumava pensar: "se o sudeste e o sul são as mais ricas regiões do Brasil, por que elas não se separam? Aí a gente vai ter um país muito rico sem regiões pobres!" Acho que eu disse isso pro meu pai. Não me lembro qual foi sua resposta. Mas a ideia era de que o separatismo não era uma coisa boa. Era uma coisa meio infantil mesmo, pensar que o sudeste e o sul são ricos e o resto é pobre. Que aqui é o Brasil bom e ético e lá o Brasil ruim e corrupto. Não sei se vocês sabem, mas o Vale do Ribeira é uma das regiões mais pobres do país, e fica no estado de São Paulo.

O motivo deu ter trazido esse assunto é ter visto no orkut muitas comunidades separatistas e divulgadoras de uma suposta "nação paulista". Tinha até gente dizendo que os paulistas eram escravizados pelo resto do Brasil(?). Então eu comecei a pensar no que porquê deu não concordar com os separatistas. Porque eu sou um brasileiro e não um paulista? Ou paulistano, uma vez que quase não vou ao interior. O que me faz identificar com o resto do país? Talvez a grande diferença social que temos mesmo aqui no município. Talvez a corrupção, já que os escândalos não se limitam à esfera federal, como o caso dos trens da Alstom e o Governo do Estado de São Paulo.

Na verdade eu não sei. Acho que a minha identificação com o país começou com a Copa de 94, quando todo mundo na casa da minha tia tava comemorando e eu vi minha mãe chorando e dizendo que o Brasil era tetra (hoje em dia, como muitos, ela não suporta a seleção brasileira). Depois vieram as Olimpíadas. Nossa, era muito legal ver aquelas pessoas representando todo um país. O meu país. O Brasil, país do futuro (ou melhor, país do dia de São Nunca). Mas de onde vinha esse país? Na escola me disseram que uns portugueses descobriram tudo isso aqui quando se perderam, tavam indo pra Índia(depois vem cara me dizer que português não é burro). Começou a colonização e os portugueses começaram a explorar as pessoas daqui. Tanto que um dia elas quiseram se separar, e conseguiram! Surgiu o Brasil, o país que se livrou dos portugueses. O país do meu povo! Um povo bravo, que lutou pela justiça e pela sua liberdade!

Nascia aí o meu nacionalismo e o meu idealismo. Eu devia tá no ginásio quando comecei a ter orgulho do Brasil e raiva dos portugueses. Pensava que eles eram todos uns filhos da puta que não souberam nem explorar meu país direito, tanto que hoje em dia foram superados pela colônia. Não penso mais assim. Não tenho nada contra portugueses, mas a questão aqui não é minha possível xenofobia. Com essa minha nova consciência de país passei a achar tudo daqui lindo, até que descobri a política. Aí eu comecei a achar que o Brasil era bom, o problema era o povo! Atingi o pico do meu nacionalismo e comecei a achar que todos os brasileiros eram imbecis e estavam estragando minha linda e perfeita nação. Fiquei com isso na cabeça um bom tempo, até que me veio à cabeça a coisa mais óbvia: sou brasileiro também! Não dava pra ficar falando mal do povo de que eu faço parte. Ou melhor, não dava pra ficar falando mal dele sem tentar mudar, seria hipocrisia. Decidi que ia mudar meu país, mudar as pessoas, decidi que ia ser jornalista. Atingi o pico do meu idealismo.

Hoje já percebi que é estúpido querer mudar as pessoas, tomei muitas "patadas" tentando ensinar o "certo" às pessoas à minha volta. Essa tentativa falhou, ao meu ver, por dois motivos: o "certo" é um conceito furado, não existe isso; não dá pra mudar quem não quer ser mudado. Aceitei que o mundo é assim, mas não desisti de mudar eu mesmo, sozinho, seria a mudança que queria ver no Brasil e, por que não, no mundo (parafraseando Gandhi). Tento ser o melhor brasileiro possível, tento ser o exemplo, não ser hipócrita, tento ser confiável, tento fazer a melhor escolha possível para meu país quando voto.

Considero-me brasileiro porque tenho um passado em comum com quem vive aqui, o Estado brasileiro e a história que aconteceu aqui nesse território determinaram toda esta zorra instalada onde moro. É verdade que a história de minha família remonta à Itália, mas a minha começa aqui, junto com a de muitos. Lembro que no "Porf Musical" desse ano (pra quem não sabe essa é a balada do Anglo) um dos professores que tava cantando falou "É você que vai cuidar do Brasil". Eu tava andando bêbado pela festa e simplesmente parei e fiquei um tempo estático. "Sou eu quem vai cuidar daqui, quanta responsabilidade! Eu TENHO que fazer o melhor trabalho possível". Eu vou fazer a história desse país junto com você, muito provavelmente.

Sou brasileiro porque me sinto parte da história desse país, e não só da história de uma Unidade Federativa. E que bom que sou brasileiro e posso dizer com muito orgulho que venho do país do futebol, do samba, da caipirinha, de Machado de Assis, de Chico Buarque, de Antônio Carlos Jobim, de Vinicius de Moraes, de Villa-Lobos, de Chiquinha Gonzaga, de Legião Urbana, de Engenheiros do Hawaii, de Chico Mendes, de Zumbi, dos 18 do Forte, de Canudos, da Amazônia, do Pré-Sal, do Etanol, da USP, de Itaipu, dos Lençóis Maranhenses, das Chapadas, dos Pampas, da miscigenação, de um povo que tem mais anti-herois do que herois. E ainda bem que tenho aqui também, bem próximos de mim, a corrupção, a pobreza, o egoísmo, o padrinhesco, o coronelismo, o superfaturamento, as favelas, e Paulo Maluf, pra me mostrarem como não ser e como não agir, me mostrarem que há muito a ser feito aqui, que nesse país tenho muitas possibilidades de crítica e de melhora.

E que merda seria se eu morasse em um país nórdico!

Vai Brasil!

PS - A oportunidade de fazer do seu país o melhor possível só acontece uma vez na vida.

9 comentários:

  1. As vezes vc escreve sobre umas coisas que tao muito na minha cabeça sem que a gente tenha conversado sobre isso. Aqui esta um caso...
    Me senti um pouco constrangido quando comecei a ler.. pq eu, infelizmente (ou não.. vai saber), penso que nem vc quando criança.. claro que sei que a separação que fosse centro sul(que ja acho muita coisa) iria trazer prejuizos pra nos.. economicos, mas principalmente naturais e eh ai que ta o problema. mas nao vou entrar em detalhes aqui.. pq posso expor uma ideia muito errada e egoista.
    Enfim, se tenho alguma critica eh que vc nao me convenceu e ai de vc se eu tiver poder nesse pais! hsauihsaui
    Resumindo: ficou muito bom, mlke.
    ta escrevendo melhor que uns jornalistas formados por ae..
    nois memo!

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  2. Faz tempo que eu não comento em nada que você escreve. Queria dizer que me alegra muito ver o seu avanço, eu sinto orgulho de você.
    Não sou patriota, nunca fui. Gosto do Brasil como um todo, mas ás vezes me sinto como uma fotografa que escolhe apenas os melhores ângulos pra fotografar.
    Essa nação brasileira é bonita pelo seu povo, por suas diversas culturas. "É bonita e é bonita..."
    Parabéns Pê, ainda vou te aplaudir de pé muitas vezes.

    Ps: Não fale mal dos portugueses.
    Ps²: SÓ você consegue pensar nos seus deveres de cidadão bêbado.
    Um beijo querido

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  3. Só você consegue pensar nos seus deveras de cidadão bêbado. [2]

    Erick do Anglo aqui (isso se vc ainda lembra hehe)
    descobri esse blog hoje, achei bem bacana (tanto que li mais da metade já). Rock on!

    Abraços mlk, manda muito x)

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  4. Olá! Eu não sei se você lembra de mim, nós fizemos um ano de teatro juntos...
    Eu estava vendo as atualizações do orkut e vi o link daqui, eu não sabia o que era, não sabia que você escreve, e fiquei muito impressionada! Você escreve muito bem!!! Tanto que eu preciso fazer milhões de coisas e ir dormir para acordar cedo amanha, e mesmo assim estou aqui há quase uma hora lendo tudo o que você já escreveu...
    Eu posso te dizer que, apesar de eu discordar de algumas ideias suas (não muitas), você ganhou uma fã! Não que eu como fã signifique muita coisa.. rsrs
    Eu espero mesmo que tudo dê certo e que você consiga se tornar um jornalista graduado, porque eu tenho certeza que você será um excelente jornalista, e nós estamos precisando disso!!! E acho muito admiráveis todos os seus ideais!

    Um beijo!!!

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  5. E se a menina está acordada às 3:07 da manhã sem propósito claro, lendo textos gigantescos de juristas que morreram virgens antes da Segunda Guerra Mundial, passa pela cabeça se distrair nesse seu mundo cheio de abstrações...
    Nesses últimos meses eu tenho brincado de fazer Faculdade de Direito e ouvir os mais diversos discursos e teorias sobre a sensação de identidade nacional.
    Eu já ouví o tipo projeto-de-Deputado-Federal, à la Policarpo Quaresma, cheio de ufanismos vazios e exagerados. Daqueles em que só falta o filha da puta subir no palanque e pedir doações pra se tornar o líder messiânico que vai guiar o Brasil rumo ao "Século XXI". É a expressão da politicagem de cinismo ingênuo, que guia os ideais dos "filhinhos de papai" em busca do cálice sagrado da aposentadoria integral.
    Quando eu dou sorte, eu encontro aqueles de qualidades "ultra-nacionalistas-seletivas", os chamados "Brasileiros-de-época". Que nem os morangos que vem do Sul na primavera, essas espécimes se consideram brasileiras só durante as Copas do Mundo, Olimpíadas, ou na presença de Argentinos (mais conhecidos como: "povinho bunda que pensa que é melhor do que o resto da América Latrina por ser a cópia mal-feita mais fidedigna da Europa"). Esses pelo menos deixam a gente dormir durante as aulas de Direito Constitucional, e não saem por aí com vestes de super-heróis achando que todo mundo vai comprar essa história de idealismo barato.
    Claro, tem sempre aqueles que não se importam ou não param muito pra pensar no assunto.Eles não incomodam, mas são pesos de papel quando o assunto é identidade.
    Esse negócio de globalização deixou tudo mais fácil, e num país já dado à mistura, em vários âmbitos, a essência que une as pessoas em torno de uma nacionalidade parece ter perdido o sentido.Afinal de contas, é muito mais "cult" ser cidadão do mundo.
    Longe de mim dar uma de "bicho-grilo" ou de prima do Macunaíma, mas eu acredito que são essas diferenças mesmo entre as concepções que unem todos os brasileiros. Apesar da dificuldade de desenvolvimento de uma democracia em âmbito político, mal ou bem, aqui nós temos espaço para nos relacionarmos da maneira que quisermos com essa identidade, o que torna difícil, e talvez desnecessária, a busca por uma essência do que é ser brasileiro.
    Apesar dos pesares, da corrupção, dos maus exemplos, o desenvolvimento dessa liberdade de escolha ,do que é nacional ou não, é fascinante, e desenvolve uma das características marcantes da cultura do país que é a versatilidade. Qualidade essa que se vê todo dia pelas escolhas de manifestações de comportamento que aglutinam vários outros, se reinventando, e permitindo a convivência de "ratos de palanque", morangos, e zumbis com insônia sob a égide de uma mesma nacionalidade.

    Pe, adorei o seu blog...
    esqueci de te contar que talvez ano que vem eu seja sua colega de turma! haha
    te vejo na quarta!
    beijo!

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  6. Ae Pedrao
    mais uma vez falando varias coisas interessantes .Cara eh mto de bebado para no meio da balada pra pensar uq vc penso hehehehe ,aposto q ja tinha ido uns tres copos de breja hehehe brincadeira
    Mesmo amando o Brasil as vezes fica dificil sustentar esse amor .Cara adoro sao paulo ,o litoral nordestino ,o interior de minas ,as garotas do sul ,mas certas coisas me intristecem .
    Uma delas eh a grande violencia de temos aqui no pais ,causada pela grande desigualdade, como vc mesmo disse ,e ainda acho, q potencializada pela cultura do povo brasileiro ,q prega ,em certos casos, a "malandragem" .É fato q em paises ,como a Índia, onde a desigualdade e mto mais acentuada ,nao c ver tanta violencia ,por as pessoas "saberem seus lugares" e nao dao de malandro .
    Outras é essa corrupcao, q vc tbm citou .As elites brasileiras estao mto mais preucupadas em fazerem alianças ,ate com o diabo c for preciso, para c chegar ao poder e com ele enrriquecer ,nao lembrando q o principal motivo para estarem "lá" é para governar em prol do povo ,q em muitas vezes nao acontece .A exemplo disso temos varios casos : castelos contruidos com o dinheiro do povo , "farra" de passagens aéreas ,parentes em cargos publicos ,entre muitos outros .Claro quem temos alguns q podem salvar suas almas ,acredito eu ,como o Suplicy ,o Gabeira ,o Ivan Valente e a Marina silva ,mas a grande maioria consegue oprimir, de certo modo, as boas açoes desses .
    Isso é tudo Pedrao ,foi mais um desabafo meu ,é q eu amo meu pais ,mas as vezes fica difícil sustentar esse meu sentimento ufanista .Creio que c cada um fizer sua parte podemos mudar esse pais ,pois apenas apresentar os fatos ja nao é mais tao impactante para a sociedade .
    Bom ,por enquanto é só.
    Abracao



    "Brasil : AME-O ou DEIXE-O!!"
    BRASIL BIL BIl BIl BIl BIL BIL BIL BIL !!!

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  7. Pedroo!

    Parabéns pelo blog, vc escreve mto bem!
    Viajei aqui lendo alguns textos, e me identiquei com vários!
    Vendo o seu talento com as palavras, dá até vergonha de pensar q eu prestei jornalismo no terceiro colegial...ainda bem q eu me decidi, com mta satisfação, pelo direito!Pq pra ser jornalista, precisa desse dom q vc tem de sobra!!

    Um beijo,
    Jaguariúna

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  8. Peraí, você está me dizendo que se orgulha de Canudos, em um pedaço do texto, ou finalmente eu fiquei ruim de interpretação de texto?
    Por favor, leia Os Sertões. Canudos é um dos meus diversos motivos de morrer de vergonha de ter nascido nessa republiqueta de banana que é o Brasil.

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  9. Pedrão,
    tive que comentar cara.
    Eu vivo numa gangorra de nacionalismo: As vezes acredito, as vezes não.
    Quando era criança meu discurso era igual ao seu, queria o separatismo do Sul e Sudeste, e foda-se o resto. Queria informar que era criança até poko tempo, pois até o segundo ano odiava o Brasil: país pobre, porco, corrupto, preconceituoso e etc e etc. Tenho que admitir q é verdade, o Brasil continua corrupto, porco, pobre e preconceituoso, mas tenho outra visão.

    Hoje, estou nacionalista.
    Ao perceber que eu podia mudar pequenas coisas na minha escola, com o auxilio de amigos, de conversa, de conscientização, percebi q posso mudar. Outra coisa q me fez creer no Brasil foi a política externa do atual governo - não sou lulista, não sou petista, mas tenho q admitir. Existe uma "onda brasileira" no mundo. O presidente não conseguiu sanar o Brasil interno, mas conseguiu vender um Brasil maravilhoso. E todo mundo fla do Brasil, todo mundo quer conhecer o brasil, o brasileiro não é mais tão desrespeitado no exterior. Isso é ótimo!
    A prova física disso é a escolha da Copa e das Olimpiadas no Brasil - Escreve algo sobre isso Pedrão. Salvo vários pontos negativos, a escolha do Brasil gerou um Nacionalismo gigantesco na maioria do brasileiros. A maioria dos jornais e revistas anti-Lula - lê-se Estadão e Veja - elogiaram o governo, as olímpiadas, a copa, o basileiro, o Brasil, o Cristo...tudo!
    E não sejamos hipócritas, os grandes países são nacionalista ao extremo!
    Quem sabe esse golpe nacionalista ajude o povo a querer mudar, e não apenas pontos isolados.

    Pedrão, vc vai ser um grande formador de opinião -se ja não é. Manda bala, mano, tente mudar sim, pelos nossos poucos heroismos, como Canudos e a Copa de 94!

    Abraços!
    ótimo blog mlk!
    Jaú

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